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Quem será capaz de unir a França?

  • Maria Paula Carvalho
  • 28 de abr. de 2017
  • 3 min de leitura

PARIS - “Como reunir um país que tem 265 tipos de queijo?” A frase célebre do General De Gaulle é um símbolo do desafio que enfrentarão os dois candidatos das eleições presidenciais, no próximo dia 7 de maio. Os resultados do primeiro turno mostram a imensa disparidade de opiniões na França, sendo que o surpreendente foi o crescimento dos partidos extremistas.

O insubmisso Jean-Luc Mélenchon alcançou a proeza de captar 19% dos votos, quase três vezes mais do que o partido Socialista, atualmente no poder. Uma série de erros da turma que pilota a máquina pública resultaram em apenas 6% de votos no primeiro turno. Enquanto isso, o símbolo da esquerda antiliberal conquistava, especialmente, os jovens e toda uma gama da população insatisfeita com as condições de vida no país, com desemprego galopante, engessamento da administração e falta de perspectivas de mudança. Aos olhos dessa camada expressiva de franceses, renegociar os tratados da União Europeia significava, também, dar um lustro no empoeirado orgulho nacional.

Os velhos partidos, aliás, disseram adeus às chances de vitória, pondo fim a uma era do bipartidarismo no país. A direita tradicional patinou após o escândalo dos empregos fictícios em que se envolveu o candidato conservador republicano. François Fillon saiu de cena admitindo responsabilidade pela derrota, ao mesmo tempo em que declarava apoio ao centrista Emmanuel Macron.

Depois de ter participado do governo do presidente François Hollande, o candidato de 39 anos busca se descolar da experiência passada. E mesmo não sendo de esquerda, Emmanuel Macron já conta com os votos dos socialistas por defender a continuidade da Europa. Contudo, o queridinho das urnas deixou muita gente esperando, em frente à televisão, na noite do 23 de abril. No lugar do usual discurso em torno de uma união nacional para vencer a ameaça de retrocesso, o candidato “bling bling gauche”, como já foi chamado, preferiu fazer uma grande festa, cercado de artistas, em clima de já ganhou, o que foi duramente criticado. Além disso, o jovem idealista e promissor não agrada toda a família francesa. Basta um almoço de domingo para perceber. Ídolo da juventude por encarnar um futuro moderno, ele definitivamente não representa os valores dos mais velhos, uma França católica e solidária. Afinal, num país com tamanha história de assistencialismo, mesmo a elite sabe que é preciso estender a mão aos necessitados e, por isso, teme uma guinada do país ao bel prazer dos financistas de plantão.

Madame Marine Le Pen, por outro lado, representa um partido conhecido pela violência e intolerância, cujos planos econômicos poderiam levar a França rumo à falência. Seu discurso dicotômico entre ricos e pobres acentua divisões numa sociedade já fragmentada ao máximo. A candidata da Frente Nacional ataca a falta de experiência de Macron e busca a união através do medo. Este, diga-se de passagem, o único elemento capaz de reunir um país tão diverso, citando, novamente, as palavras de De Gaulle.

O atentado do dia 21 de abril no Champs-Élysées, quando um jihadista abriu fogo contra a polícia, certamente fez bem à campanha Le Pen. A avenida mais famosa da Cidade-Luz virou palco de um tiroteio que fez vítimas não apenas entre as forças de segurança, mas também no imaginário da população, já aterrorizada por ataques semelhantes. Mas a bandeira de levantar as fronteiras da imigração ignora o fato de que muitos desses jovens radicais são franceses de passaporte, terceira ou quarta geração de famílias islâmicas que, efetivamente, se estabeleceram aqui, décadas atrás. Assim sendo, faz-se urgente que o Eliseo mergulhe num verdadeiro exercício de autoanálise, a fim de repensar a forma como a questão vem sendo abordada ao longo do tempo. Que tratamento recebem os jovens das periferias de Paris, as famílias que vivem sem emprego e sem horizonte? De que forma são tratados nas penitenciárias? Essa é só uma pontinha do novelo de problemas que o próximo presidente terá que resolver, assim que a festa da vitória acabar.


 
 
 

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