Trump de saias?
- Maria Paula Carvalho
- 3 de abr. de 2017
- 2 min de leitura

PARIS - A pouco mais de duas semanas do primeiro turno da corrida presidencial, impossível não pensar na possibilidade de os franceses elegerem a primeira mulher presidente do país. Marine Le Pen é aquela candidata que parece jamais alcançar a linha de chegada, tamanha a falta de clareza de suas propostas e a intensidade da guinada à extrema direita, num país socialista por natureza. Contudo, num cenário em que a população não acredita em mais ninguém, o improvável ganha cada vez mais contorno de realidade.
Seu partido (Frente Nacional) nunca apresentou chances reais de passar ao segundo turno. Mas, em 2017, caso as abstenções aumentem, a história pode ser outra.
Sua principal arma: a saída da França do Euro. Marine fala como se a Comunidade Europeia fosse a única culpada pelas agruras enfrentadas em seu país. Esquece-se dos números da economia e acentua as pequenas rivalidades para garantir apoio a uma medida contrária ao passado de união há tanto tempo proposto no velho continente. Afinal, faz quase sete décadas que Alemanha e França perceberam que seriam mais fortes unidas do que em posições rivais.
Num território devastado pelo pós-guerra, as duas nações logo enxergaram a necessidade de atuarem juntas para enfrentar problemas comuns, como o gerenciamento da energia e das matérias-primas. De lá para cá, o mundo mudou, é verdade, mas ambos os países seguem como cavalos de ferro num continente combalido pela concorrência mundial. Na opinião de alguns especialistas, somente uma Europa forte poderia fazer frente aos demais blocos comerciais existentes mundo afora.
A cartada final de madame Le Pen é o medo do terrorismo, instalado em cada coração francês, esse sim um mal em si e uma ameaça global. Basta visitar Paris para perceber que a cidade Luz é vigiada por soldados 24/7, numa clara demonstração de que os tempos de paz ficaram para trás. Hoje, o flâneur que percorra as ruas estreitas de Montmartre ou as Tuileries não pode se esquivar de bater de frente com homens armados. Tampouco os turistas que visitam os grandes magazines estarão livres de uma revista completa na entrada, o mesmo acontecendo em teatros, museus e afins.
Mas, diferentemente da agenda populista de Donald Trump, nos Estados Unidos, no lugar de erguer muros, a França sempre preferiu uma abordagem de acolhimento aos imigrantes. Casa, comida, escola e ao menos uma chance de integração são garantidos aqui. Mesmo que, por vezes, o radicalismo não permita reconhecer essa oportunidade como um recomeço, impelindo muitos jovens à Jihad Islâmica. Os atentados de Paris e Nice deixam a população em estado de alerta máximo, aumentando a caixa de ressonância para um discurso xenófobo e preconceituoso. Contudo, é na diversidade e na tolerância se que assentam os princípios da República Francesa e é nelas que reside a esperança de que a onda de populismo da FN, por fim, não passe de uma marolinha.
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