Nasce uma nova França
- mariapaulascarvalho
- 7 de mai. de 2017
- 3 min de leitura
PARIS –

Os eleitores que comemoram na Esplanada do Louvre apostam na renovação e numa Europa forte. Muitos outros, porém, votaram sem convicção. Para uma parte significativa do eleitorado, hoje foi um dia de evitar o pior. Como acontece em outras democracias pelo mundo, poucos eram aqueles que batiam no peito com orgulho de sua escolha, num pleito marcado pelas diferenças e o baixo nível da campanha eleitoral.
Afora os que apoiaram Emmanuel Macron desde o início (24,1% de votos no primeiro turno), o comparecimento às urnas, dessa vez, foi motivado, também, pelo medo. Afinal, não se vota apenas por crenças individuais mas, sobretudo, pelo todo da sociedade.
No país das luzes e do direito do homem, as liberdades estiveram ameaçadas pelo avanço da candidatura da Frente Nacional, que conquistou 35,5% dos votos. Para muita gente, mais do que comemorar o progressismo de Macron, é hora de entender como um discurso totalitário conquista tanta gente. Onze milhões de pessoas escolheram o projeto capitaneado por Marine Le Pen, formando uma significativa massa de oposição ao novo governo.
Felizmente, aqui, resiste o patriotismo, contrário ao nacionalismo. Na França, os que menos tem, ao menos tem a Pátria. Esse sentimento espontâneo que brota no coração de cada um é mais forte do que a cólera e o rancor proposto pelo radicalismo da extrema-direita. E o povo demonstrou que mais vale a comunidade, a solidariedade e a atenção ao próximo do que a xenofobia e a intolerância.
A taxa de participação nas urnas foi abaixo do esperado (26% de abstenções). Mais de 4 milhões de votos brancos e nulos, recorde para uma eleição presidencial. Mas nem o ataque de hackers ao Movimento En Marche, com vazamento de documentos sigilosos ou supostas irregularidades na campanha, garantiriam a vitória dos extremistas.
Macron conquistou 65,5% dos votos, em números ainda não oficiais. Mas sai ganhando a França inteira! Aquela que se orgulha das conquistas sociais e da paz na Europa.
O papel do presidente da República está definido na Constituição de 1958. É a figura que deve servir a todos os franceses, sendo o Chefe de Estado e das Forças Armadas. É quem assina as leis e trabalha para que elas sejam cumpridas. É o nome que representa o país no exterior e cuida de garantir a soberania nacional.
A partir de agora, todas essas atribuições cabem a Emmanuel Macron, 39 anos, o mais jovem presidente eleito da França. Ele veio do mundo das finanças para se dedicar à política. Liberal, centrista e pro-empreendedorismo, Macron simboliza uma articulação Estado-mercado que poderá acelerar as transformações no segundo maior país da União Europeia, arranjo que ele defende com unhas e dentes.
Macron também encarna a promessa de uma democracia renovada. Entre sua primeiras medidas devem estar a interdição por parte de eleitos ou ministros de empregar parentes e de acumular mais do que três mandatos sucessivos. Nas educação, o ano letivo deverá começar com apenas doze alunos por classe, nas regiões precárias, e mais autonomia às escolas. As reformas do mercado de trabalho devem avançar, com acordos setoriais quanto à carga horária, salários e outras condições preponderantes para aumentar as contratações. Afinal, esse é um dos maiores problemas no país: o desemprego chega a 10%, o oitavo índice mais alto entre os 28 membros da UE.
As eleições legislativas de 11 e 18 de junho, contudo, serão cruciais para determinar o apoio que Macron terá na Assembleia e, consequentemente, a velocidade das mudanças que ele promete impor ao país.
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