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É possível viver num país mais transparente

  • Maria Paula Carvalho
  • 19 de mai. de 2017
  • 2 min de leitura

PARIS - O presente oferece uma oportunidade rara para o Brasil revisar sua trajetória de insucessos e assegurar um lugar entre as nações mais desenvolvidas. Porém, a transformação numa democracia com prosperidade amplamente compartilhada para todos ainda é um processo em construção. O sucesso da luta contra a corrupção pode ajudar a determinar se o país completará sua metamorfose de um gigante desigual, em uma das potências da atualidade.

Para que os casos investigados se tornem efetivamente uma virada e não se configurem como eventos excepcionais na história, atitudes da sociedade civil e a aceitação fatalista da impunidade no país e nas instituições brasileiras precisam mudar. Porém, na terra do famoso “jeitinho”, poucos são aqueles que, ao fim do dia, admitirão tê-lo empregado. É essa contradição entre os valores reais e os valores professados ​​que constitui o grande dilema brasileiro. Os malfeitos advém de pequenas situações do cotidiano ou mesmo dos figurões da República.

Por um viés histórico, as práticas de corrupção poderiam ser consideradas herança de uma formação de país baseada num Estado centralizado e clientelista. Em outras palavras, o Brasil foi um país construído de cima para baixo, sem que a população fosse consultada sobre aspectos fundamentais do desenvolvimento social e urbano.

Atribuir-se toda a responsabilidade pelos maus feitos no Brasil ao seu passado e à colonização portuguesa, contudo, seria um grande equívoco, uma vez que a corrupção é característica do comportamento humano, independentemente de condição geográfica. Tal abordagem também parece ignorar o esforço de aprimoramento institucional ocorrido no país, especialmente a partir da década de 1990.

Mas na prática, demagogia e inversão de valores têm sido corriqueiras na sociedade brasileira. Pesquisas científicas demonstram que, embora afirmem ter uma noção clara de quais são os comportamentos éticos e morais mais aceitáveis, muitos brasileiros ainda vivem sob o espectro da corrupção. Pior ainda é quando os acusados são indivíduos de patrimônio invejável em relação à massa dos trabalhadores e, mesmo assim, capazes de se envolver em escândalos que retiram dinheiro dos que mais precisam.

A consequência é que o cidadão paga a conta, mas não recebe os benefícios. Para a sociedade, passa a impressão de que, apesar de tantas evidências, a corrupção continua sendo tolerada. Mais do que um obstáculo ao crescimento sustentado, mensalões, petrolões e outros esquemas nefastos provocam o enfraquecimento da crença e do idealismo pelas causas cívicas.

Uma transformação efetiva, portanto, só vai acontecer no dia em que os conchavos e as decisões políticas de cartas marcadas ficarem no passado. Só assim os brasileiros poderão abandonar o estigma de viver no eterno país do futuro para começar a aproveitar as oportunidades do presente.

 
 
 

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