Agora tem que dar certo
- Maria Paula Carvalho
- 22 de mai. de 2017
- 3 min de leitura
PARIS - “Maintenant, if faut que Ça Marche”
O trocadilho com o nome do partido de Emmanuel Macron e a esperança dos franceses ganha espaço na mídia e nos corações. A primeira semana do novo presidente no cargo foi uma oportunidade para mostrar que não esquecerá as promessas de campanha. A começar pela indicação do ministério, composto na metade por mulheres.
A frente do Exército entra Sylvie Goulard, jurista de formação, deputada europeia e simpatizante da criação de uma Guarda para os países do Bloco Europeu. A segunda mulher a assumir esse posto na história da França vai ter a missão de garantir a segurança num país envolvido em conflitos internacionais e ameaçado pelo terrorismo.
Emmanuel Macron também cumpre sua palavra ao escolher para postos-chave cidadãos não profissionais da política. Faz parte do projeto de renovação que conquistou tantos votos. Aliás, a média de idade do novo governo é 54 anos, sendo que o mais novo integrante tem apenas 33.
Mounir Mahjoubi,o “geek” que desde cedo se interessou por política foi braço direito da campanha para questões de tecnologia da informação. Sangue novo para enfrentar velhos problemas. Estudou nas prestigiosas Sciences Po, em Paris, e Columbia University, em Nova York. É filho da classe trabalhadora, que por esforços próprios chegou lá, uma mensagem da transformação que o novo presidente pretende impor num país dividido.
Do total de 22 nomes anunciados, só 4 já ocuparam ministérios anteriormente. O segundo mais novo da lista, responsável pelas contas públicas, também não nasceu em berço esplêndido. Gérald Darmanin, 34 anos, agrupa as funções do orçamento, seguridade social e reforma do Estado. Filho de uma faxineira de um hospital, era um dos prodígios da direita.
Além dele, apenas Bruno Le Maire, 48 anos, foi escolhido entre os Republicanos. Ex-ministro da agricultura no governo Sarkozy e candidato nas primárias da direita, Le Maire foi nomeado para tocar a Economia, posto que já pertenceu ao próprio Macron.
No cômputo geral, o novo governo pode ser mais de esquerda do que direita.
Mas mostra a ânsia de trazer todas as vozes para discussão. E seus integrantes fazem ver que o importante é o trabalho colaborativo de diversas frentes, mais do que as legendas que carregam.
Mas numa mostra da fragilidade das alianças políticas, frente à proximidade das eleições de junho, ambos os republicanos foram expulsos após aceitarem as novas missões. Porém, não hesitaram nenhum minuto, afirmando que a França vive uma nova recomposição, num mundo que avança, afirmando que o país merece mais do que partidos e exclusões.
Entre as prioridades, aliás, está a moralização da vida política. Limitar os conflitos de interesses deverá ser palavra de ordem. E para isso entram medidas que já existem, há bastante tempo, no Brasil. Só agora a França vai decretar o impedimento ao emprego de familiares e a proibição de acúmulo de mandatos. Além disso, dessa vez, quem se apresentar nas eleições parlamentares e não for eleito deverá deixar o governo. Uma série de normas para dar mais transparência à administração, especialmente, após as graves denúncias do Penelope-gate durante o primeiro turno.
Macron delegou o ministério da Justiça a um forte apoiador de campanha. François Bayrou abriu mão do próprio sonho de disputar a presidência para apoiar o En Marche e teve o esforço reconhecido.
Falando em esforço e vitória, a esgrimista Laura Flessel assume o ministério dos Esportes com a experiência de duas medalhas de ouro em Jogos Olímpicos. Agora, vai suar o uniforme para trazer o maior evento esportivo do planeta a Paris, em 2024, seu maior desafio.
Reformas ambicionas à vista também na pasta da ecologia, onde o novo ministro foi recebido com um simbólico tapete verde. Protagonista de um programa de TV, Nicolas Hulot é uma aposta arriscada. Figura conhecida por defender o meio ambiente, ele também é polêmico em suas declarações unilaterais e muitos duvidam que conseguirá compor com os demais e trabalhar em equipe. Em suas mãos estão a tarefa de gerir a crise energética e a definição sobre a manutenção do uso de reatores atômicos, além do problema quente das mudanças climáticas. Ao menos por enquanto, os primeiros compromissos assumidos pelo mais jovem presidente da França parecem estar em andamento. Agora é esperar se essa oxigenação na Velha República trará os resultados desejados.

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