Terrorismo: o perigo mora ao lado
- Maria Paula Carvalho
- 30 de mai. de 2017
- 3 min de leitura
PARIS - Autoridades de Manchester continuam investigando as possíveis conexões do homem apontado como autor do atentado do dia 22 de maio. Salman Adebi, 23 anos, não agiu sozinho quando se explodiu no concerto de Ariana Grande, matando 22 pessoas, incluindo uma garota de oito anos, e deixando mais de 100 feridos.
Terrorismo é uma técnica, um método de ação, que põe em risco vários países da Europa. França e Inglaterra são alvos em potencial, símbolos de uma sociedade aberta, em contradição com os valores de uma cultura fechada.
O presidente francês Emmanuel Macron propõe a extensão do estado de emergência até 01 de novembro. A medida autoriza poderes extraordinários em políticas antiterror, incluindo prisões e buscas sem autorização judicial.
O país convive com o radicalismo islâmico há bastante tempo. Em 2012, a população acompanhou as ações de Mohamed Merah, que resultaram em 7 mortes numa escola judaica. O alvo, porém, era bem mais amplo. Naquela época, o autor já deixava claro seu propósito, ao declarar amar a morte, num país que preza pela vida.
De lá para cá os métodos do Estado Islâmico não mudaram. E apesar de as autoridades francesas monitorarem 11 mil suspeitos de fundamentalismo em solo nacional, parece que os terroristas estão sempre um passo a frente. Investigações sistemáticas não conseguem impedir o pior. Foi assim no ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo, em janeiro de 2015; nos ataques contra o Bataclan e outros alvos que resultaram em mais de uma centena de mortos, em novembro do mesmo ano; ou quando um caminhão atropelou dezenas de pessoas na Promenade des Anglais, em Nice, em 14 de julho de 2016, deixando um rastro de 84 mortes.
Até hoje parentes das vítimas estão à espera de um resposta: por que nossos filhos? Não se trata de uma fatalidade ou de um incidente qualquer. O terrorismo está presente na sociedade europeia como um câncer. E não há mais como fazer incisões cirúrgicas ou colocar detectores de metais em cada porta de loja, em cada estação de trem ou bar de Paris. Basta um caminhão ou uma faca, não precisa muito dinheiro e nem mesmo treinamento de guerra para fazer um largo estrago. O perigo mora ao lado. E a proximidade das eleições parlamentares, em algumas semanas, acende o alerta máximo.
Fundamentalistas islâmicos já formam uma grande porcentagem dos prisioneiros na França. E o tratamento que eles recebem no cárcere faz com que as cadeias daqui sejam chamadas de “universidades da jihad” ou “incubadoras do terrorismo.” Ao juntar no mesmo local os chamados “heróis” da guerra Santa, com um programa ineficaz de desradicalização, o governo acaba por incentivar o recrutamento, ajudando, indiretamente, a espalhar a mensagem do mal.
Decriptar o que dizem os soldados da jihad e prever seus planos malévolos é fazer face ao terror. Mais do que isso, a batalha exigirá ações de precaução e advertência, especialmente voltadas para os mais jovens. São eles as presas preferidas dos extremistas. Nos casos já detectados, apoio psicológico será crucial como antídoto contra o envenenamento de ideias.
Reconstruir um discurso que faça amar a Europa e a cultura da liberdade, sobretudo, torna-se urgente. Para frear essa doença que se vasculariza pelo corpo de várias nações será preciso extinguir as metástases, evitar a doutrinação e a radicalização. Um processo que vai além dos gabinetes da política internacional e que passa, primordialmente, pela escola e pela célula familiar.

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