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A mais antiga galeria de arte do mundo

  • Maria Paula Carvalho
  • 26 de jul. de 2017
  • 2 min de leitura

Vallon Pont D’Arc – França

Após a minha segunda visita à garganta do Rio Ardèche, na região da Auvérnia-Ródano-Alpes, não poderia sair sem escrever sobre esse testemunho da humanidade, incrustado na pedra calcária. Milagrosamente conservada após um desmoronamento que lhe fechou a entrada, Chauvet-Pont-d’Arc é a grota ornamentada mais antiga conhecida no mundo.

Em 18 de dezembro de 1994, quando exploradores amadores entraram por um vão muito estreito na falésia abrupta, à beira do rio, não podiam imaginar o que haviam descoberto. Especialistas franceses não tardaram a perceber que estavam diante de uma raridade: as obras de arte mais antigas encontradas até hoje, um registro vivo da capacidade criativa do homem.

A gruta é formada por uma sucessão de vastas galerias adornadas por estalagmites e formações rochosas surpreendentes. O cristal de cálcio, em vários estágios, resulta em cores terrosas e um degradê que segue do ocre ao branco, passando por minerais rosados e beges. As mais de 420 representações de animais, de 14 espécies diferentes, maravilham os visitantes. Argila, carvão e calcário serviram de materiais para imortalizar os grandes predadores. O painel dos felinos é de uma beleza irretocável.

Testes feitos com carbono 14 permitiram datar essa raridade: 36 mil anos nos separam das primeiras imagens produzidas por nossos ancestrais. Nômade, caçador e anatomicamente parecido conosco, o homo sapiens é o autor dos desenhos. Mamutes, rinocerontes, leões, ursos e cavalos que formavam a fauna local, numa época de clima frio e seco, e vegetação de estepe.

Batizada com o nome de um de seus descobridores, Chauvet é atualmente fechada por uma porta blindada, enquanto câmeras de segurança vigiam esse santuário. Acredita-se que era um local de adoração, de peregrinação e de admiração da capacidade do próprio homem de recriar o mundo a sua volta.

O afundamento do corredor de acesso, há 22 mil anos, isolou a caverna de variações climáticas e da incursão de pessoas e animais. Atualmente, mesmo a visita dos pesquisadores é limitada para evitar a poluição exterior e a degradação dos desenhos. Medidas drásticas para garantir que as próximas gerações possam conhecer um tesouro de valor inestimável.

Com apoio do governo francês, uma cópia fidedigna foi desenvolvida, usando tecnologia sofisticada e o talento de exímios pesquisadores. Os mais de 4 mil fragmentos de ossos encontrados lá dentro, a maioria pertencente aos ursos das cavernas, são indícios de que ela serviu de habitat para ferozes criaturas. Mas é a sofisticação dos trabalhos e as diferentes técnicas empregadas pelos primeiros artistas que mais impressionam.

A verdadeira gruta Chauvet jamais será aberta ao público. Mas a cópia fiel daquilo que os séculos não foram capazes de apagar permite-nos sentir a emoção de apreciar essa maravilha pré- histórica. Um espaço capaz de levar os mais sensíveis às lágrimas e dar a sensação de viajar no tempo, num piscar de olhos.

 
 
 

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