top of page

Brasil do amanhã

  • Maria Paula Carvalho
  • 17 de out. de 2017
  • 3 min de leitura

RIO – Sociedade civil, empresários e jornalistas discutiram, no Museu do Amanhã, cenários possíveis para o futuro do Brasil.

O curador da instituição, Luiz Alberto Oliveira, abriu a sessão lembrando que “vivemos o melhor momento da história da humanidade”. Dados científicos apontam uma sociedade mais longeva, pacífica e livre, como nunca antes registrado. “Mais da metade da humanidade é alfabetizada”, sendo que a educação chegou às mulheres.

Ao mesmo tempo, “vivemos a época mais perigosa até hoje, quando podemos destruir o planeta”, alertou. A aceleração do aquecimento global é um exemplo disso. “É nesse mundo paradoxal que teremos que fazer as escolhas para o futuro”, afirmou. “O amanhã começa hoje, porque hoje é o local da ação”. Vivemos o dilema entre a desagregação permanente ou a construção de um futuro comum mais próspero.

O painel Caminhos da Democracia contou com a presença do ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O magistrado explicou que “para a democracia não há apenas um caminho”. A democracia, como definiu, “é um processo”.

Benjamin apontou avanços recentes, como a proibição do financiamento eleitoral de empresas. Porém, lembrou que só isso não será suficiente. “A certeza da impunidade absoluta” é que precisa acabar no Brasil, desafiou.

O corregedor geral da Justiça Eleitoral, contudo, fez questão de mostrar que “no passado já foi muito pior”. Ou seja, por mais que existam desvirtuamentos na política brasileira, a expectativa é que o pleito de 2018 seja mais limpo do que os anteriores.

Sobre a reforma política eleitoral, Herman Benjamin repreendeu aqueles que pensam “que não se alcançou nada”. Considerando a aversão à mudanças reinante no Congresso Nacional, o que veio “já é um progresso”, disse. É preciso, porém, muita atenção para que esses pequenos avanços não se transformem em retrocessos ou o retorno do status quo, alertou. “No Brasil ainda se compra eleição”, admitiu o ministro do TSE. Num local construído para questionar o futuro, Herman Benjamin encerrou sua fala dizendo: “A sustentabilidade não é só a manutenção dos processos ecológicos, mas não há vida política sem a manutenção de projetos sociais e éticos que alimentam a República”. O filósofo Marcos Nobre (Unicamp) dedicou-se aos paradoxos da sociedade brasileira. Ele explica que vivemos entre estruturas que já declinaram, mas ainda existem, e outras que nasceram, mas ainda não se estruturaram.

O cientista social mostra que o fenômeno de afastamento da sociedade dos partidos políticos é visível em todo o mundo. Esse “divórcio entre o sistema político e a sociedade” transformou-se numa importante crise de representação. E nesse contexto, os partidos políticos precisarão ser revisitados. Há instituições centenárias que necessitam de modernização urgente. Se nada for feito, pelo contrário, a tendência é o sistema político virar as costas pra sociedade, especialmente num momento em que tantos parlamentares precisam se explicar perante o Judiciário.

O preço a pagar, em caso de a sociedade abandonar a política, poderá ser muito alto. “Uma separação das pessoas do sistema político só vai aumentar a repressão”, diz Nobre.

Para dar conta dos desafios, os brasileiros precisarão reconhecer que não existe uma solução mágica. Estabelecer um diagnóstico dos problemas, com um diálogo tolerante e aberto, é um primeiro passo para discutir pontos comuns e iniciar a transformação que queremos. Marcos Nobre nos alerta que “o sistema político brasileiro está em estado de autodefesa”. Segundo o cientista social, os parlamentares fizeram uma reforma eleitoral para garantir o máximo de chances de renovação de seus próprios mandatos. Um ciclo vicioso que só será interrompido quando membros da sociedade civil estiverem dispostos e conseguirem quebrar esse bloqueio, passando a ocupar brechas deixadas pela "politicagem" profissional.

Experiências como listas cívicas de candidaturas ao parlamento europeu e a organização de novos partido, como o caso do Podemos, na Espanha, e a criação do movimento En Marche (que levou Emmanuel Macron ao poder, na França), foram citados como exemplos de oxigenação da política mundial. O problema hoje no Brasil é que a energia de renovação não parece estar voltada para organizar e melhorar as instituições públicas. Aproximar a sociedade da política será o grande debate daqui por diante. Afinal, mesmo em campos ideológicos diferentes, os brasileiros podem lutar por uma agenda mínima capaz de levar o país ao próximo estágio de desenvolvimento.

 
 
 

Comments


Procurar por Tags

© 2023 por "Pelo Mundo". Orgulhosamente criado com Wix.com

Doar com PayPal

Visto em

    Gostou da leitura? Doe agora e me ajude a proporcionar notícias e análises aos meus leitores  

bottom of page