top of page

Inteligência Artificial na reportagem

  • Maria Paula Carvalho
  • 17 de dez. de 2017
  • 2 min de leitura

PARIS - Programar a luz adequada de um ambiente, mudar os canais da tv, aferir a temperatura do banho, calcular as calorias de uma refeição. Processos rotineiros ganharão nova roupagem a partir do crescimento do uso da inteligência artificial. Na reportagem, as mudanças já chegaram.

Eui-Hong (Sam) Han, diretor de Biga Data e personalização do Washington Post explica as mudanças por que o jornal passou até chegar ao sucesso de assinaturas de hoje: mistura entre jornalismo e engenharia. O Post assumiu, em parte de suas matérias, um modelo de Automated storytelling. A Heliograf, uma tecnologia de narração automatizada interna, permitiu que o jornal cobrisse, por exemplo, todos os jogos de futebol da High School em Washington, D.C. “Os robôs permitem um novo modelo de cobertura local”, diz o engenheiro. "No passado, não teria sido possível para o The Post cobrir mais do que alguns jogos importantes por semana. Agora, podemos cobrir qualquer jogo para o qual tenhamos dados, dando aos jogadores e aos fãs uma cobertura quase instantânea para ler e compartilhar”.

As matérias são carregadas de dados e fichas dos principais jogadores, estatísticas individuais e mudanças de pontuação trimestral, juntamente com os rankings regionais semanais. O projeto serviu como uma experiência para as coberturas políticas nos Estados Unidos, que deverão ganhar cada vez mais em detalhamento de dados. São previstas, por exemplo, aberturas diferentes para cada estado, reportagens feitas a partir de pesquisas de intenção de votos e do acompanhamento da apuração.

O bot do Post também produz histórias sobre os livros mais vendidos na Amazon e o desempenho das vendas. Onde houver números e estatísticas, a máquina dá conta. Sobretudo, a inteligência artificial permite acelerar a capacidade de verificação de documentos e encontrar aquela famosa “agulha no palheiro”.

Só nos Jogos Olímpicos Rio 2016, o blog do post com matérias desse tipo recebeu 190 mil visitas. Em nome da transparência, os leitores eram avisados sobre a forma de produção das notícias. Uma das principais vantagens do bot é permitir publicação em vários canais ao mesmo tempo, com versões segmentadas para públicos específicos. Ingestar o material bruto, em tempo real, continua sendo um dos grandes desafios. O outro, é passar sentimento.

Segundo Han, os leitores reclamaram que as reportagens dos jogos estudantis americanos eram desinteressantes e sem emoção. Especialmente no caso de uma cobertura esportiva, em que os espectadores desejam, justamente, certa criatividade. Por isso as novas pesquisas seguem no sentido de incluir expressões mais “humanas” e tentar colocar mais personalidade no texto feito pelo bot, a partir de dados.

De uma coisa, entretanto, o Washington Post não abre mão: editores humanos. O jornalista, afinal, está lá pra salvar o real! Homens e mulheres continuarão no centro das decisões.

Num negócio em que o imediatismo pode significar um furo de reportagem, será que há lugar para a volta de velhos artigos? No mundo virtual, tudo depende da audiência. O Projeto Zombie, do jornal suíço Le Temps faz isso mesmo: desenterra bons textos que tiveram muitos clics! A estatística não substitui o editor-chefe, mas pode virar uma guilhotina ou um troféu para a carreira do repórter.

O mais importante, entretanto, será sempre o conteúdo e a busca incessante pelo bom jornalismo.

Os dilemas morais dessa nova realidade, habitada por bots, são assuntos do meu próximo post. Abraços!

 
 
 

Kommentarer


Procurar por Tags

© 2023 por "Pelo Mundo". Orgulhosamente criado com Wix.com

Doar com PayPal

Visto em

    Gostou da leitura? Doe agora e me ajude a proporcionar notícias e análises aos meus leitores  

bottom of page